Segundo dados recentes do IBGE, o Brasil voltou ao mapa da fome – do qual havia saído, com muito esforço, há cerca de sete anos. É uma dura realidade: neste ano de 2020, cruzamos a marca de dez milhões de pessoas em estado de insegurança alimentar grave – ou seja, são mais de dez milhões de brasileiros passando fome, sem ter certeza de quando farão a próxima refeição.
Infelizmente, voltamos a viver num ambiente de grave insegurança alimentar e nutricional, com milhões de brasileiros passando fome.
Fome e miséria se relacionam diretamente. E costumam ser o termômetro mais evidente de um quadro de desigualdade social. Todo mundo sabe (ou deveria saber) que a fome é produzida socialmente, pois é um indicador social inequívoco. Longe de ser alguma espécie de ‘castigo’, a fome é uma questão política – expressamente ligada à ação governamental. Um governo negacionista, que não reconhece e nem investe contra a fome se torna, automaticamente, um agente da desnutrição.
É claro que o Brasil tem produção suficiente para alimentar, com folga, toda a sua população. Daí vem a clássica pergunta: por que tanta gente passa fome, no país que tem a maior área de terras agricultáveis do mundo? Essa pergunta nos remete ao diagnóstico de Josué de Castro, realizado há quase oitenta anos: passar fome, no Brasil, é o maior sinal de negligência humana.
É claro que a pandemia e o desemprego concorrem fortemente para esse quadro extremo. Afinal, o custo mensal para alimentação de uma família de quatro pessoas, no Nordeste brasileiro, absorve mais que a metade de um salário mínimo – num ambiente em que a renda vem caindo vertiginosamente.
Para agravar a situação, a indústria alimentícia oferece ao consumidor de baixa renda aqueles alimentos ultraprocessados, carregados de sódio e gordura, que cumprem um péssimo papel nutricional. Ou seja, em vez de se alimentar com saúde, nosso povo ganha altas taxas de triglicerídeos, colesterol, obesidade, hipertensão – e desnutrição. Tudo com apoio de um governo federal que, logo no início de sua gestão, desmontou o Conselho Nacional de Segurança Alimentar.
Portanto, a insegurança alimentar e nutricional está diretamente ligada a uma política que não reconhece, não apoia e não subsidia a produção familiar e agroecológica. Muito pelo contrário: o atual governo discrimina o pequeno produtor, na medida em que só tem olhos para o agronegócio…
É preciso mobilizar a sociedade por essa causa, lutando pela volta das políticas de segurança alimentar e nutricional no Brasil – para reconsolidarmos esse direito humano essencial. A fome é a maior das injustiças, e deve ser combatida por todos e todas.